SÍNDROME DO INTESTINO IRRITADO / IRRITÁVEL: O QUE FAZER?
O seu intestino oscila de acordo com o seu humor? Você tem dor abdominal e alteração nas fezes (diarreia ou prisão de ventre) com frequência? Se a resposta for sim, você pode ser portador da Síndrome do Intestino Irritável, também conhecida como intestino irritado. A seguir, vamos explicar melhor o que é essa síndrome e o que fazer para aliviar os sintomas.
O que é a Síndrome do Intestino Irritável (SII)?
A Síndrome do Intestino Irritável, conhecia pela sigla SII e também chamada de intestino irritado, é uma doença crônica, caracterizada por dor abdominal recorrente, associada a alteração do hábito intestinal.
Acomete cerca de 11% da população mundial e é mais comum em mulheres. A sua fisiopatologia envolve o eixo “cérebro-intestino”. O nosso intestino possui um sistema nervoso próprio, com milhões de neurônios, sendo considerado o nosso “segundo cérebro” e existe uma íntima conexão entre os neurônios intestinais e o sistema nervoso central. É por isso que períodos de maior estresse emocional podem desencadear os sintomas do intestino irritado.
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Quais são os critérios diagnósticos para definirmos o intestino irritável?
Para definirmos a SII, alguns critérios precisam ser estabelecidos (Critérios de Roma IV):
– Dor abdominal recorrente que ocorre pelo menos uma vez por semana nos últimos três meses, com início dos sintomas há, no mínimo, seis meses, associada a dois ou mais dos seguintes:
1- Relacionado com a defecação (melhora ou piora da dor ao evacuar);
2- Alteração na frequência das evacuações;
3- Alteração na forma /consistência das fezes.
Quais são os tipos de SII?
A Síndrome do Intestino Irritável pode ser subdividida em:
1) SII com predomínio de constipação: fezes ressecadas em pelo menos 25% das evacuações;
2) SII com predomínio de diarreia: fezes líquidas em pelo menos 25% das evacuações;
3) SII forma mista: alternância entre os dois padrões anteriores.
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Como é feito o diagnóstico da síndrome?
A SII é uma doença funcional, ou seja, os exames realizados para a investigação dos sintomas não evidenciam nenhuma alteração orgânica. É preciso cumprir os Critérios de Roma IV e excluir outras doenças (principalmente as potencialmente mais graves) para fazer o diagnóstico. Dessa forma, dizemos que o diagnóstico é de exclusão.
De acordo com os sintomas apresentados, podem ser solicitados exames para afastar as seguintes condições:
– Infecções e parasitoses intestinais;
– Alergias e intolerâncias alimentares (como por exemplo, a intolerância à lactose);
– Doenças Inflamatórias Intestinais (Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa);
– Doença Celíaca;
– Doenças pancreáticas;
– Distúrbios da tireoide (o hipotireoidismo e o hipertireoidismo podem provocar alterações evacuatórias).
É muito importante ressaltar que não existe nenhum exame em isolado que dará o diagnóstico de intestino irritável.
Sempre precisamos verificar se existem sinais de alarme, que podem ser indicativos de alguma doença grave. São eles:
– Idade superior a 45 anos;
– Histórico familiar de câncer de intestino e/ou Doença Inflamatória Intestinal;
– Sangramento do trato digestivo;
– Perda de peso inexplicada;
– Febre;
– Diarreia que acorda o indivíduo a noite;
– Dor abdominal intensa;
– Alterações nos exames laboratoriais: anemia por deficiência de ferro, elevação de PCR / VHS, aumento da Calprotectina fecal.
Pessoas saudáveis, sem nenhum dos sinais de alarme acima e com sintomas sugestivos da SII, geralmente precisam de poucos exames complementares. A indicação de cada exame deve ser avaliada individualmente.
A colonoscopia nem sempre será necessária para fechar o diagnóstico. Esse exame geralmente é reservado para a presença de sinais de alarme.
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Quais sintomas o intestino irritado causa?
A história evolutiva da SII inclui períodos de melhora sintomática, intercalados com períodos de exacerbação dos sintomas. Seguem abaixo os sintomas mais frequentes da síndrome.
– Dor abdominal: tipo cólica, com localização e intensidade variadas. É aliviada ao evacuar. Pode piorar com fatores estressantes emocionais e alguns alimentos.
– Alterações nas fezes: as fezes podem sofrer alterações tanto para o tipo diarreico (fezes líquidas, com aumento da frequência evacuatória), quanto para o tipo constipado (fezes ressecadas, endurecidas, com esforço para defecar e menor frequência evacuatória). Pode haver a predominância de um dos dois padrões ou a alternância entre eles.
– Outros sintomas do trato digestivo: enjoo e vômitos, dificuldade de digestão, azia e queimação no estômago, refluxo, excesso de gases, barriga estufada.
– Sintomas que geralmente não estão presentes: perda de apetite, emagrecimento, febre, sintomas durante o sono que acordam o indivíduo, sangramento nas fezes.
É muito frequente a associação com distúrbios psiquiátricos, como ansiedade e depressão.
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Qual o tratamento do intestino irritável?
O mais importante é orientar o paciente que é uma doença crônica, com períodos de melhora (remissão) e piora (exacerbação) dos sintomas e que essas oscilações estão muito associadas a alterações do estado emocional. Explicar que é uma doença benigna e que não aumenta o risco de câncer é fundamental, pois, muitas vezes, o que pode estar sendo “gatilho” para os sintomas é o medo de estar com algo grave.
O tratamento é multidisciplinar e pode ser necessário o acompanhamento conjunto com psicólogo, psiquiatra e nutricionista.
Modificações no estilo de vida também são muito importantes, como: praticar atividade física, redução do estresse no dia a dia e realizar alterações na dieta com acompanhamento de um nutricionista. É importante ressaltar que nenhum alimento específico causa a SII, mas certos alimentos podem desencadear os sintomas, de forma individual, em cada pessoa.
O uso de medicamentos também pode ser necessário para melhor controle dos sintomas. Atualmente existem várias medicações que atuam em todos os sintomas da SII: controle da dor abdominal e do excesso de gases, alívio da diarreia ou da prisão de ventre. Porém, a melhor medicação para cada caso só poderá ser avaliada pelo médico, a automedicação não deve ser realizada!
Os principais medicamentos utilizados são:
1) Neuromoduladores: atuam modulando a dor abdominal e auxiliam na melhora das alterações evacuatórias (diarreia e constipação). Além disso, agem no controle do humor, sendo utilizados para o tratamento de ansiedade e depressão (distúrbios frequentemente associados à SII). Porém, mesmo nos pacientes que não têm ansiedade e/ou depressão, esses medicamentos podem ser fundamentais, pois têm ação na inervação intestinal, regulando o seu funcionamento.
São alguns dos medicamentos que compõem essa classe: Amitriptilina, Bupropiona, Desvenlafaxina, dentre outros.
2) Antiespasmódicos intestinais: utilizados para tratar a distensão e a dor abdominal.
3) Laxantes: nos indivíduos que tem um padrão de doença no qual predomina a constipação, os laxantes podem ser necessários para auxiliar no funcionamento intestinal. Além deles, medidas como: aumentar o consumo de fibras e líquidos e praticar exercícios físicos, são essenciais.
4) Antidiarreicos: já nos pacientes nos quais a diarreia é o padrão dominante, medicações antidiarreicas podem ser utilizadas, mas somente após avaliação médica.
5) Probióticos: são medicamentos bastante prescritos para tratar o intestino irritado, porém poucos estudos comprovaram seus benefícios.
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Qual médico procurar se tiver o intestino irritado?
O médico especialista no tratamento e acompanhamento do intestino irritado é o gastroenterologista. A consulta com esse especialista é fundamental para estabelecer o diagnóstico correto da síndrome e, a partir daí, poder definir o melhor tratamento para o seu caso.
A Dra. Thaís Figueiredo Araújo é gastroenterologista, formada pela residência médica na Santa Casa de Belo Horizonte.
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A Síndrome do Intestino Irritável tem cura?
Infelizmente a SII é uma doença crônica, que não possui cura. Porém, com tratamento e acompanhamento corretos, os sintomas podem ser controlados e o indivíduo terá uma boa qualidade de vida.
Quais as consequências a longo prazo da síndrome?
Apesar de ser uma doença benigna, que não aumenta o risco de câncer, o intestino irritado pode acarretar sérias consequências à qualidade de vida, com prejuízos emocionais e restrições sociais.
Pacientes com sintomas que não estão bem controlados, frequentemente deixam de realizar atividades devido aos incômodos das dores abdominais, ao receio de passar mal ou não ter um banheiro próximo quando precisar. Além disso, faltam ao trabalho ou à escola com maior frequência devido aos sintomas desagradáveis.
Referências:
Ford AC, Moayyedi P, Chey WD, et al. American College of Gastroenterology monograph on management of irritable bowel syndrome. Am J Gastroenterol. 2018; 113(Suppl 2):1-18
Lacy BE, Pimentel M, Brenner DM, et al. ACG clinical guideline: management of irritable bowel syndrome. Am J Gastroenterol. 2021; 116(1):17-44
Sayuk GS. Medical therapies for diarrhea-predominant irritable bowel syndrome. Gastroenterol Clin North Am. 2021; 50(3):611-637
