Dra Thaís Figueiredo

PEDRA (CÁLCULO) NA VESÍCULA: O QUE FAZER?

A pedra na vesícula, tecnicamente chamada de colelitíase, é uma condição bastante comum, geralmente diagnosticada em um ultrassom de abdome realizado de rotina. A boa notícia é que a maioria dos portadores dos cálculos na vesícula não apresentarão sintomas e a remoção cirúrgica da vesícula possui indicações específicas.

O que é a vesícula biliar?

A vesícula biliar é o órgão responsável por armazenar e concentrar a bile. É uma espécie de “bolsinha” com formato semelhante a uma pera, que fica localizada abaixo do fígado.

O que é a bile? A bile é uma espécie de “detergente” produzido no fígado, que auxilia na digestão de alimentos gordurosos.

Sob estímulo da alimentação, a vesícula joga a bile no intestino delgado para auxiliar nesse processo digestivo.

mão de uma pessoa com pequenas pedras enquanto a outra mão derrama as pedras que estão dentro de um pequeno pote de plástico

O que é a colelitíase?

Colelitíase é o termo técnico utilizado para o acúmulo de cálculos (“pedras”) na vesícula biliar. É a doença benigna que mais acomete a via biliar.

Os cálculos biliares, popularmente conhecidos como “pedra na vesícula”, na maioria das vezes são formados por cristais de colesterol e podem causar sintomas ou não. Eles variam em tamanho e em quantidade (alguns indivíduos podem ter apenas um cálculo e outros, a vesícula repleta de pedras).

VOCÊ TEM PEDRA NA VESÍCULA?

Quais os sintomas de quem tem cálculo na vesícula?

As pedras na vesícula podem não gerar sintomas, sendo, nesses casos, descobertas em exames de imagem de rotina. Em 80% dos casos, os portadores dos cálculos serão assintomáticos.

Quando os sintomas estão presentes, os principais são:

– Dor abdominal: geralmente em cólica, principalmente abaixo das costelas à direita, de intensidade moderada a alta.

– Náuseas (enjoo) e vômitos: podem ocorrer devido à dor intensa.

– Inchaço abdominal e sensação de indigestão: ocorrem devido a problemas na secreção da bile.

– Icterícia (pele e olhos amarelados): acontece quando há obstrução do canal da bile pelas pedras, assim a bile não consegue ser drenada, se acumulando no sangue, na pele e nos olhos.

– Fezes claras e urina escura: também acontecem quando há obstrução do canal da bile. A bile não chega ao intestino, deixando as fezes claras. E como se acumula no sangue, deixa a urina mais escura.

Os sintomas geralmente são piores após a ingesta de alimentos gordurosos.

VOCÊ APRESENTA ESSES SINTOMAS?

Quais são os fatores de risco para formar cálculos na vesícula?

Existem diversos fatores documentados que aumentam o risco de formação de cálculo na vesícula, são alguns deles:

– Sexo feminino;

– Idade a partir de 40 anos;

– Presença de outros casos na família;

– Oscilação rápida do peso (ganho ou perda);

– Obesidade;

– Colesterol elevado;

– Diabetes tipo 2;

– Tabagismo;

– Dieta pobre em fibras;

– Jejum prolongado;

– Gestação (principalmente nos 2º e 3º semestres).

foto de uma pessoa fazendo ultrassom na área do abdômen

Como é feito o diagnóstico de pedra na vesícula?

O exame mais utilizado para o diagnóstico de cálculo biliar é o ultrassom de abdome superior. Em grande parte dos casos, o diagnóstico será feito durante a realização de um ultrassom de rotina ou solicitado devido a outros motivos, em pacientes sem queixas relacionadas à colelitíase. É um exame que possui boa acurácia para a detecção dos cálculos.

Exames laboratoriais podem ser necessários dependendo dos sintomas apresentados e da suspeita de complicações.

Qual médico procurar se tiver cálculos na vesícula?

Se você descobriu que tem pedra na vesícula incidentalmente em um ultrassom de abdome de rotina ou se sofre com os sintomas da colelitíase, deve realizar uma consulta com um gastroenterologista. Esse especialista poderá te orientar sobre os sintomas e sobre o melhor tratamento para o seu caso.

A Dra. Thaís Figueiredo Araújo é gastroenterologista, formada pela residência médica na Santa Casa de Belo Horizonte.

foto de um médico atrás de uma mesa apontando para a vesícula em um modelo anatômico da área do figado

Qual o tratamento para a colelitíase?

O tratamento é cirúrgico e consiste na retirada completa da vesícula. Não é possível retirar apenas das pedras, pois, se deixarmos o órgão lá, há grande chance de formarem novos cálculos, com necessidade de reabordagem cirúrgica. 

A cirurgia é chamada de colecistectomia e geralmente é um procedimento simples, que muitas das vezes pode ser realizado, inclusive, por vídeo (videolaparoscopia), sem necessidade de abrir a barriga.

Mas todo mundo que tem pedra na vesícula precisa realizar a cirurgia para remover o órgão? Não necessariamente! Existem algumas indicações para a cirurgia:

– Sintomas associados aos cálculos biliares (devido ao elevado risco de recorrência dos sintomas);

– Inflamação da vesícula (colecistite);

– Pancreatite biliar;

– Presença de pólipos na vesícula iguais ou maiores que 1 cm (ou crescimento rápido do pólipo);

– Presença de lesões na vesícula que são suspeitas de malignidade;

– Vesícula em porcelana (possui uma associação de 20% com câncer de vesícula);

– Colangite esclerosante primária;

– Anemia hemolítica (doença falciforme ou esferocitose hereditária).

Algumas modificações dietéticas e no estilo de vida são importantes para prevenir o surgimento de sintomas dos portadores de pedra na vesícula:

– Realizar atividades físicas regularmente;

– Reduzir o consumo de alimentos gordurosos;

– Aumentar a ingestão de fibras.

VOCÊ POSSUI PEDRA NE VESÍCULA? AGENDE UMA CONSULTA PARA A DRA. THAÍS DEFINIR O MELHOR TRATAMENTO PARA O SEU CASO

É possível viver sem a vesícula?

A resposta é: sim! Se for ingerida uma grande quantidade de gordura, o organismo terá mais dificuldade de digestão, o que pode causar excesso de gases, inchaço abdominal e diarreia. Para viver bem sem a vesícula, você precisará ter alguns cuidados, como: evitar alimentos gordurosos e fracionar as refeições, ingerindo pequenas porções em intervalos menores de tempo.

Diarreia após a retirada da vesícula é normal?

Por incrível que pareça, é uma condição comum para quem realiza a cirurgia e não necessariamente é grave. A boa notícia é que na maior parte dos casos, a diarreia cessa depois de algumas semanas. Porém, em alguns casos, pode persistir por anos.

Mas por que isso acontece?

A vesícula é um reservatório de bile, substância que funciona como se fosse um “detergente”, auxiliando na digestão da gordura. Ao retirar a vesícula, essa substância é jogada pelo fígado diretamente no intestino. O aumento dos sais biliares no intestino causa “irritação” local e pode ter uma ação laxativa. A diarreia geralmente ocorre após as refeições e principalmente após a ingesta de alimentos gordurosos.

O que fazer para melhorar a diarreia?

O recomendado é evitar o consumo de gorduras e frituras. Caso os sintomas persistam, procure um gastroenterologista: existem medicamentos (quelantes de sais biliares) que podem ajudar.

Além da diarreia, outros sintomas podem surgir após a colecistectomia:

– Náuseas e vômitos;

– Arrotos;

– Indigestão e sensação de saciedade precoce;

– Azia e queimação no estômago;

– Distensão abdominal e flatulência.

foto de uma barriga com mãos pressionando a área da vesícula

VOCÊ RETIROU A VESÍCULA E COMEÇOU A APRESENTAR DIARREIA E OUTROS SINTOMAS INCÔMODOS?

Quais são as complicações do cálculo biliar?

A colecistite aguda é a complicação mais comum. Ocorre em aproximadamente 10% dos indivíduos com colelitíase sintomática. O quadro deve ser suspeitado se febre e dor abdominal intensa embaixo das costelas à direita, com duração superior a seis horas.

Outras complicações possíveis, mas menos frequentes, são:

– Icterícia obstrutiva: quando um cálculo impacta e obstrui o canal da bile;

– Pancreatite biliar aguda: o cálculo migra da vesícula e pode causar inflamação no pâncreas;

– Colangite aguda: infecção do trato biliar secundária à obstrução do fluxo da bile por algum cálculo impactado. Causa febre, icterícia (olho e pele amarelados) e dor abdominal;

– Câncer da vesícula biliar.

Referências:

European Association for the Study of the Liver. EASL Clinical Practice Guidelines on the prevention, diagnosis and treatment of gallstones. J Hepatol. 2016; 65(1):146-181

Warttig S, Ward S, Rogers G. Guideline development group. Diagnosis and management of gallstones disease: summary of NICE guidance. BMJ. 2014; 349:g6241

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *