Dra Thaís Figueiredo

PANCREATITE: TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

A pancreatite é uma inflamação do pâncreas que possui diversas causas. A causa mais conhecida é a associada ao álcool. O quadro agudo pode ser grave e necessitar de internação hospitalar. A inflamação pode persistir por um período mais prolongado, levando à pancreatite crônica.

O que é a pancreatite?

A pancreatite é uma inflamação do tecido do pâncreas, órgão que desempenha funções essenciais, como a produção de hormônios (o mais conhecido deles é a insulina, que faz a regulação das taxas de açúcar no sangue) e do suco pancreático, que auxilia no processo digestivo.

Em um quadro de pancreatite, essas funções ficam prejudicadas e, dependendo da gravidade, pode haver uma resposta inflamatória sistêmica e o comprometimento de outros órgãos do nosso corpo.

A maioria dos quadros será leve, porém, alguns pacientes podem evoluir desfavoravelmente, inclusive com internação em leitos de terapia intensiva.

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uma foto de vários coquetéis

Quais as causas de pancreatite?

A causa mais popularmente conhecida de pancreatite é o consumo excessivo de álcool, porém existem diversas outras:

– Alcoólica: é a segunda causa mais comum (10-40%) e ocorre principalmente em pessoas com histórico de abuso de álcool a longo prazo;

– Cálculo biliar: causa mais comum (40-50%), que acontece devido ao fato do pâncreas e da vesícula serem conectados por ductos biliares. Cálculos que estão na vesícula podem migrar e obstruir esses ductos, interrompendo o fluxo das enzimas pancreáticas, que passam a agir sobre o próprio pâncreas e causam o processo inflamatório;

– Triglicérides elevado (acima de 1000 mg/dL);

– Cálcio elevado (ocorre em doenças como o Hiperparatireoidismo);

– Após procedimentos da via biliar, como a CPRE (Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica);

– Genética;

– Autoimune;

– Traumas abdominais;

– Acidente por picada de escorpião;

– Câncer da via pancreática;

– Pós-infecciosa (infecções virais, bacterianas, parasitárias e fúngicas);

– Medicamentos (Exemplos: antirretrovirais, Azatioprina, estrogênio e hormônios esteroides, Codeína, Enalapril, Furosemida, Sinvastatina, Metronidazol, dentre outros).

Em alguns indivíduos, mesmo após investigação extensa com exames, não conseguimos identificar uma causa para a pancreatite. Esses casos ocorrem em aproximadamente 20% dos pacientes e chamamos de pancreatite idiopática.

O tabagismo também é um fator de risco tanto para a pancreatite aguda, quanto para a crônica.

uma mulher na cama com expressão de dor e a mão na área do pâncreas

Quais os sintomas da pancreatite?

O principal sintoma da pancreatite aguda é a dor abdominal, que geralmente apresenta as seguintes características: contínua, localizada no andar superior do abdome (em faixa), com irradiação para o dorso, piora com alimentação e alivia com flexão do tronco para frente. Náuseas e vômitos também são bastante frequentes.

Nos quadros que evoluem para pancreatite crônica, também pode surgir fezes gordurosas (esteatorreia), pele e olhos amarelados (icterícia) e perda de peso (pacientes não se alimentam bem durante as crises de dor e após, não voltam a alimentar como antes).

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Como é feito o diagnóstico de pancreatite?

Para estabelecermos o diagnóstico de pancreatite aguda, precisamos preencher pelo menos dois dos três critérios abaixo:

1- Dor abdominal típica;

2- Elevação de enzimas pancreáticas (amilase e lipase): acima de três vezes o limite superior da normalidade;

3- Exame de imagem (ultrassom, tomografia ou ressonância de abdome): com alterações sugestivas de pancreatite.

Exames adicionais podem ser necessários para investigar a causa da pancreatite. Isso é muito importante para que possamos tratar a causa e prevenir que ocorram novos episódios.

mulher deitada em posição fetal e mão no abdômen com expressão de incômodo

Qual o tratamento para a pancreatite?

A pancreatite deve ser tratada em regime hospitalar. Pacientes com critérios de gravidade podem necessitar suporte de terapia intensiva. De maneira geral, o tratamento é clínico e baseia-se em: hidratação, analgesia e suporte nutricional.

A analgesia consiste no controle da dor, que geralmente é feito com medicações venosas. O medicamento utilizado dependerá da intensidade da dor.

A nutrição é essencial para a boa recuperação e deve ser introduzida assim que possível. Pacientes com dores intensas, náuseas e vômitos, podem não tolerar a dieta no início. As enzimas pancreáticas (amilase e lipase) elevadas não são uma contraindicação para iniciar a dieta. Se a via oral não for possível, avaliar a nutrição enteral por sonda. Em alguns casos pode ser necessário a administração da dieta na veia (parenteral). A nutrição adequada reduz a resposta inflamatória sistêmica.

O uso de antibióticos só é indicado em situações específicas, quando existe a suspeita de infecção associada:

– Necrose pancreática ou extrapancreática associada à piora do estado geral e/ou de critérios infecciosos laboratoriais;

– Ausência de melhora clínica após 7-10 dias de internação hospitalar;

– Tomografia de abdome com presença de gás em área necrótica.

Os objetivos do tratamento são o controle da inflamação pancreática e a correção da causa subjacente. A principal causa associada à pancreatite são os cálculos biliares, por isso, sempre deve ser realizado um exame de imagem para avaliar a presença dos cálculos. Nesses casos, deve ser realizada a remoção cirúrgica da vesícula (colecistectomia), para prevenir a recorrência. Essa cirurgia, idealmente, deve ser realizada na mesma internação, após a recuperação total da pancreatite aguda.

Algumas modificações do estilo de vida também são importantes após a alta hospitalar, como cessar o etilismo e o tabagismo, reduzir o consumo de gorduras e praticar atividade física.

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Quais os riscos da pancreatite?

A pancreatite aguda pode evoluir com algumas complicações, dentre elas:

– Pseudocisto pancreático;

– Coleções necróticas;

– Infecção da necrose;

– Inflamação sistêmica, com acometimento de outros órgãos, podendo evoluir para insuficiência de múltiplos órgãos e até ao óbito.

Algumas das condições acima podem necessitar intervenção cirúrgica.

Aproximadamente 21% dos pacientes com pancreatite aguda apresentarão recorrência do quadro e, desses, 8% acabam evoluindo para pancreatite crônica.

Quadros repetidos de agressão ao pâncreas, com inflamação crônica, causam fibrose (“cicatrizes”) progressiva do parênquima do órgão e, consequentemente prejuízos às funções desempenhadas: produção de insulina, glucagon e enzimas digestivas. Com o avançar da doença, surge esteatorreia (fezes com gordura), deficiências nutricionais e diabetes.

Os quadros de pancreatite crônica precisam ser acompanhados por um gastroenterologista. Ele é o especialista que avaliará o melhor tratamento para controle dos sintomas e prevenção de complicações futuras. A Dra. Thaís Figueiredo Araújo é gastroenterologista, formada pela residência médica na Santa Casa de Belo Horizonte.

foto do corpo humano com cor azul e pâncreas marcado de vermelho

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Referências:

Arvanitakis M, Ockenga J, Bezmarevic M, et al. ESPEN guideline on clinical nutrition in acute and chronic pancreatitis. Clin Nutr. 2020; 39(3):612-631

Crockett SD, Wani S, Gardner TB, et al. American Gastroenterological Association Institute guideline on initial management of acute pancreatitis. Gastroenterology. 2018; 154(4):1096-1101

Tenner S, Baillie J, DeWitt J, et al. American College of Gastroenterology guideline: management of acute pancreatitis. Am J Gastroenterol. 2013; 108(9):1400-15

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