Dra Thaís Figueiredo

OMEPRAZOL: ALIADO OU VILÃO?

O Omeprazol é uma das medicações mais utilizadas em todo o mundo. Possui benefícios comprovados no tratamento de doenças do trato digestivo, tais como: doença do refluxo gastroesofágico, gastrite, úlceras e H. pylori. Porém, muitas pessoas tem o receio de alguns efeitos adversos que são atribuídos a essa medicação, como câncer e demência. Mas será que o Omeprazol é mesmo esse “vilão”? Nesse artigo vamos abordar essa questão polêmica e esclarecer melhor sobre os reais benefícios da medicação.

um homem segurando um copo de agua em uma mão e remédio na outra mão.

O que são os Inibidores de Bombas de Prótons (IBPs)?

Os Inibidores de Bomba de Prótons, mais popularmente conhecidos como “prazois”, são medicamentos que atuam inibindo a secreção de ácido pelo estômago. O representante mais conhecido dessa classe é o Omperazol. Outras medicações que fazem parte desse grupo são: Pantoprazol, Esomeprazol, Rabeprazol, Lansoprazol e Dexlansoprazol.

Quais doenças são tratadas com os Inibidores de Bombas de Prótons (IBPs)?

As principais indicações de tratamento com IBPs são:

– Doença do refluxo gastroesofágico: os IBPs atuam tanto no controle dos sintomas de refluxo, quanto na cicatrização da mucosa esofágica, sendo importantes também no tratamento de manutenção das complicações da doença (esofagite erosiva e Esôfago de Barrett).

– Úlceras pépticas: os IBPs são as principais medicações utilizadas para o tratamento de úlceras gástricas e duodenais.

– Tratamento do H. pylori: juntamente com os antibióticos, os IBPs fazem parte das medicações utilizadas com o objetivo de erradicar a bactéria.

– Esofagite eosinfílica: é uma inflamação do esôfago causada por reação alérgica. Os IBPs são uma das opções de tratamento.

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O Omeprazol causa câncer e demência?

Alguns estudos tentaram comprovar a associação dos IBPs com câncer e demência. Isso assustou a população quanto ao uso desses medicamentos e acabou os transformando em “vilões”. No entanto, nenhum desses estudos foi conduzido com metodologia adequada, possuíam fatores confundidores, e, dessa forma, não conseguiram comprovar essas associações.

São medicamentos com benefícios comprovados há anos e que são seguros para uso a longo prazo, desde que haja uma indicação precisa para esse uso e com acompanhamento médico regular.

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foto com fundo branco e várias cartelas de remédio

Quais são os efeitos adversos do Omeprazol?

Apesar de não causar câncer e demência, o Omeprazol, assim como qualquer outro medicamento, possui efeitos adversos. São alguns deles:

– Deficiências nutricionais (vitamina B12, vitamina D, ferro, zinco, magnésio e cálcio): esses nutrientes devem ser dosados laboratorialmente para avaliar a necessidade de reposição.

– Osteoporose e fraturas ósseas: devido à deficiência de cálcio.

– Nefrite intersticial aguda: lesão nos rins causada por uma “reação alérgica” ao Omeprazol.

– Colite por Clostridium difficile: o uso de IBP tem sido associado a um risco aumentado de infecção intestinal (colite) por C. difficile, mesmo na ausência de uso de antibióticos.

– Pólipos gástricos de glândulas fúndicas: são pólipos benignos que surgem no estômago associados ao uso prolongado de IBPs.

Como são medicamentos que podem ser comprados sem receita, observa-se um uso indiscriminado dos IBPs, sem acompanhamento médico adequado. Se você faz uso de IBPs por período prolongado, não deixe de realizar acompanhamento com um gastroenterologista.

Qual é o médico que deve acompanhar o tratamento com o Omeprazol?

O médico que trata das doenças do aparelho digestivo e que deve fazer o acompanhamento do tratamento com os IBPs é o gastroenterologista.

A Dra. Thaís Figueiredo Araújo é gastroenterologista, formada pela residência médica na Santa Casa de Belo Horizonte.

Ela poderá avaliar se realmente você tem indicação de fazer uso do IBP e dentre os medicamentos dessa classe, qual é mais adequado ao seu caso e a dose correta. Lembre-se que cada paciente é único e deve ter um tratamento individualizado.

ilustrações de médica, um médico, tabela e comprimidos de remédios e um cardiógrafo

Qual a maneira correta de tomar o Omeprazol?

O Omeprazol deve ser tomado em jejum (de estômago vazio), 30 a 60 minutos antes da refeição.

Qual a importância do jejum?

– Os IBPs são medicações que agem inibido a acidez do estômago através do bloqueio das bombas de prótons.

– Quando ingerimos o alimento, ativamos essas bombas. Assim, se tomarmos os “prazois” durante ou após as refeições, grande parte das bombas de prótons já estarão ativadas e os IBPs não conseguirão inativá-las.

– Além disso, a maioria dos “prazois” dependem do pH ácido para serem transformados em medicações ativas e o jejum é o momento em que o pH está mais ácido.

Tão importante quanto tomar o Omeprazol em jejum, é alimentar-se 30 a 60 minutos após uso, pois o alimento estimula a secreção ácida que será inibida por esses medicamentos.

O uso correto da medicação é fundamental para o sucesso do tratamento.

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foto de mulher tomando remédio e segurando um copo de água

Faço uso de Omeprazol e continuo tendo sintomas no estômago (dor, queimação, azia), o que devo fazer?

Se você já faz uso de algum IBP, mas persiste com sintomas dispépticos (dor ou queimação no estômago, azia, refluxo), é necessário responder a algumas perguntas:

1- O diagnóstico está correto?

2- O medicamento prescrito é a melhor opção para o caso?

3- A dose da medicação está correta?

4- O medicamento está sendo utilizado da forma adequada?

E para responder a essas perguntas, é essencial realizar uma consulta com o gastroenterologista, médico especialista nas doenças do trato digestivo.

Faço uso de medicamento para tireoide (hipotireoidismo) e tomo Omeprazol: devo tomar primeiro o remédio da tireoide ou o Omeprazol?

Tanto o medicamento para o tratamento do hipotireoidismo (Levotiroxina, Puran, Levoid, Euthyrox…), quanto os IBPs precisam ser tomados em jejum. Isso gera dúvidas no paciente que precisa fazer uso das duas medicações.

Segue abaixo um esquema para facilitar o entendimento sobre a forma correta de tomar os dois medicamentos:

1° – Acordar;

2° – Tomar o medicamento para o hipotireoidismo com um pouco de água;

3° – Aguardar 30 a 60 minutos;

4° – Tomar o IBP (“prazol”);

5° – Aguardar 30 a 60 minutos;

6° – Alimentar-se.

foto com uma pílula aberta e ilustrações cientificas em cima das partes separadas

Quem faz uso dos Inibidores de Bombas de Prótons (IBPs) precisará utilizar a medicação para sempre?

Uma dúvida frequente dos pacientes que usam os “prazois” é se será necessário usar a medicação para o resto da vida. Não possuímos uma resposta única para essa pergunta. 

Em alguns casos está indicado o uso crônico da medicação, como:

– Esôfago de Barrett;

– Esofagite Eosinofílica;

– Doença do refluxo gastroesofágico complicada: esofagite erosiva grave (graus C e D de Los Angeles), úlcera ou estenose esofágica.

Todos os pacientes em uso dos IBPs devem ter uma revisão regular das indicações do seu uso. Essa revisão deve ser conjunta entre médico e paciente, daí a importância de manter o acompanhamento regular nas consultas com o gastroenterologista.

Nos pacientes que não for identificada uma indicação objetiva para o uso dos “prazois”, devemos tentar suspender a medicação. Como já falado anteriormente, os IBPs possuem efeitos adversos e o uso a longo prazo aumenta a probabilidade de que eles ocorram.

Naqueles que utilizam o medicamento em duas ou mais tomadas ao dia, devemos tentar reduzir para apenas uma vez ao dia. Além disso, vamos tentar diminuir a dose à menor possível para manter o paciente sem sintomas.

Em pacientes com alto risco de sangramento gastrointestinal, a suspensão dos IBPs não deve ser considerada.

É importante ressaltar que os pacientes que descontinuam a terapia de longo prazo com IBPs devem ser avisados que podem ter sintomas transitórios devido à hipersecreção ácida de rebote.

A suspensão dos “prazois” é uma estratégia importante para reduzir a polifarmácia e o custo econômico envolvido.

VOCÊ FAZ USO DE ALGUM IBP POR LONGO PERÍODO E NÃO SABE SE REALMENTE PRECISA CONTINUAR O USO?

Referências:

Farrell B, Pottie K, Thompson W, et al. Deprescribing proton pump inhibitors – Evidence-based clinical practice guideline. Can Family Phys. 2017; 63:354-64

Shin JM, Cho YM, Sachs G. Chemistry of covalent inhibition of the gastric (H+, K+)-ATPase by proton pump inhibitors. J Am Chem Soc 2004; 126:7800

Moayyedi PM, Lacy BE, Andrews CN, et al. ACG and CAG clinical guideline: management of dyspepsia. Am J Gastroenterol. 2017; 112(7):988-1013

Laine L, Ahnen D, McClain C, et al. Review article: potential gastrointestinal effects of long-term acid suppression with proton pump inhibitors. Aliment Pharmacol Ther 2000; 14:651

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