Dra Thaís Figueiredo

CONSTIPAÇÃO INTESTINAL (INTESTINO PRESO): O QUE FAZER?

Constipação intestinal, intestino preso, prisão de ventre, intestino preguiçoso. Esses são alguns dos termos utilizados quando o intestino não funciona bem, causando dificuldade para evacuar.  Estima-se que 15-20% da população sofra com essa condição.

O que é considerado um funcionamento intestinal normal?

É considerado normal o intestino funcionar de 03 vezes por semana a 3 vezes ao dia. Muita gente pensa que não evacuar todos os dias é sinal de prisão de ventre, mas isso é um mito!

Qual a definição de constipação intestinal?

A constipação intestinal é definida por:

– Menos de 3 evacuações por semana;

– Alteração na consistência e/ou formato das fezes (endurecidas, ressecadas, em formato de “bolinhas”);

– Esforço importante para defecar;

– Sensação de evacuação incompleta e/ou uso de manobras manuais para evacuar.

Pode ser aguda ou crônica, sendo a primeira iniciada de forma súbita, enquanto a segunda aparece de forma gradual e pode persistir por meses a anos. Consideramos o quadro crônico quando a duração dos sintomas é superior a três meses.

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foto de uma barriga com corrente na frente

Quais as causas de intestino preso?

A prisão de ventre é mais comum em mulheres, crianças e idosos e na maioria das vezes é resultado de hábitos de vida inadequados: dieta pobre em fibras, baixo consumo de água e sedentarismo.

Existem diversos fatores por trás da constipação, dentre eles:

– Fatores psicológicos e emocionais (estresse, ansiedade, depressão);

– Baixa ingesta de líquidos;

– Deficiência de fibras na dieta;

– Não praticar atividade física;

– Disbiose (desequilíbrio da flora intestinal);

– Incoordenação da musculatura perineal / assoalho pélvico (músculos que auxiliam na defecação);

– Doenças sistêmicas, como: hipotireoidismo, Doença de Chagas, Doença Celíaca, Esclerose Múltipla, traumas raquimedulares, doenças neurológicas, dentre outras;

– Efeitos colaterais de alguns medicamentos (Exemplo: Codeína, Amitriptilina, suplementação de Ferro).

Quais os sinais de alarme nos quadros de constipação intestinal?

Os pacientes que têm intestino preso devem ficar atentos aos sinais abaixo, que quando presentes, indicam a necessidade de uma avaliação médica com mais urgência:

– Sangramento retal;

– Exame de sangue oculto nas fezes positivo;

– Anemia por deficiência de ferro;

– Perda de peso inexplicada;

– História familiar de doença inflamatória intestinal ou câncer de intestino;

– Constipação em pacientes idosos;

– Constipação de início recente, sem causa encontrada.

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Como é feito o diagnóstico da prisão de ventre?

Na maioria dos casos, o diagnóstico será clínico, baseado na história do paciente, sem a necessidade de exames complementares. Quando os sinais de alarme estiverem ausentes, podemos orientar sobre as modificações no estilo de vida para alívio dos sintomas e avaliar como o quadro irá evoluir.

A colonoscopia deve ser reservada para a presença de sinais de alarme, para indivíduos a partir de 45 anos de idade e naqueles casos de constipação de início abrupto.

Nos pacientes refratários às modificações comportamentais iniciais, é necessária uma investigação mais detalhada das causas da prisão de ventre. Nesses casos, podemos lançar mão de exames mais específicos, como: tempo de trânsito colônico, manometria anorretal e defecografia.

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uma médica apontando para uma ilustração do intestino

Quais são os tipos de intestino preso?

Entender qual é o padrão da constipação é fundamental para definir a melhor estratégia terapêutica.

1- Tipo trânsito normal: o tempo de esvaziamento do intestino é normal.

2- Tipo inércia colônica ou trânsito lento: parte do intestino funciona mais lentamente ou não funciona. Assim, as fezes demoram um período maior para percorrer todo o trajeto do intestino até o ânus.

3- Tipo obstrução de saída: algo impede que as fezes passem pelo canal anal e sejam eliminadas. Nesse caso, devem ser avaliadas disfunções dos músculos da pelve.

Qual médico procurar se tiver constipação intestinal?

O médico especialista no tratamento e acompanhamento da constipação intestinal é o gastroenterologista. A consulta com esse especialista é fundamental, pois somente ele será capaz de avaliar a causa mais provável do seu intestino preso e definir o melhor tratamento para o seu caso.

A Dra. Thaís Figueiredo Araújo é gastroenterologista, formada pela residência médica na Santa Casa de Belo Horizonte.

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Quais medidas podem ajudar no melhor funcionamento do intestino?

Quando o assunto é “intestino preguiçoso”, algumas medidas básicas podem ajudar a colocar tudo nos eixos:

1- Consuma alimentos ricos em fibras: frutas, verduras, cereais integrais, farinha de aveia e linhaça, chia (ideal: 20-35 gramas de fibras/dia). As fibras são fundamentais para a formação do bolo fecal;

2- Mantenha-se hidratado (35 ml/kg/dia de água): a água é necessária para “lubrificar” as fezes;

3- Mastigue bem os alimentos:  durante a mastigação são enviados estímulos para que o intestino comece a se movimentar, ajudando a eliminar as fezes acumuladas;

4- Respeite o “reflexo gastrocólico”: ocorre um aumento da movimentação intestinal após as refeições (o intestino “empurra” o conteúdo para frente, para abrir mais espaço para o alimento que está chegando), gerando o impulso de evacuar (esse nunca deve ser ignorado!);

5- Pratique atividade física regularmente: o fortalecimento dos músculos da região abdominal aumenta a pressão sobre o intestino, havendo maior estímulo à sua movimentação;

6- Estabeleça uma rotina: crie o hábito de ir ao banheiro sempre em um determinado horário, mesmo se estiver sem vontade. O objetivo é treinar os músculos do intestino a funcionarem em um ritmo regular;

7- Posicione-se corretamente no vaso sanitário: sentado, com os pés apoiados no chão e com o tronco inclinado para frente sobre o abdome (dica: colocar um banquinho embaixo dos pés facilita essa posição). Isso irá retificar a angulação do reto, favorecendo a expulsão do bolo fecal;

8- Se você faz uso crônico de medicamentos, avalie, juntamente com o seu médico, a suspensão daqueles que podem causar constipação, sempre que possível.

Essas medidas são a primeira linha de tratamento da prisão de ventre e sempre devem ser tentadas antes do início de qualquer medicação.

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foto de uma pessoa segurando a parte com mais gordura da barriga

Laxantes podem ser utilizados por quem tem o intestino preguiçoso?

Alguns medicamentos podem ser utilizados para facilitar o funcionamento intestinal, mas adotar um estilo de vida saudável é o principal pilar do tratamento. Dependendo da causa, pode ser necessário o uso de medicações que estimulem a motilidade intestinal, laxantes e até mesmo fisioterapia pélvica.

A suplementação de fibras artificiais deve ser tentada naqueles indivíduos que têm dificuldade de ingerir uma quantidade adequada de fibras através da dieta. É importante salientar que a resposta do intestino às fibras pode demorar várias semanas, por isso a persistência é fundamental. Além disso, possui como efeitos colaterais estufamento abdominal e flatulência, por isso o ideal é iniciar com doses mais baixas e aumentar progressivamente.

No tipo de constipação “inércia colônica”, o uso de laxantes pode ajudar.

Os laxantes osmóticos agem “puxando” água para a luz intestinal, assim, lubrificam e amolecem as fezes. Não possuem ação irritativa sobre o intestino, podendo ser usados, inclusive, por crianças.

Já os laxantes estimulantes, podem alterar a sensibilidade do intestino de forma permanente, por isso devem ser usados somente em casos refratários e, de preferência, por curto período de tempo.

A fisioterapia pélvica está indicada quando é detectada alguma alteração na musculatura do assoalho pélvico.

Hoje em dia existem diversas medicações no mercado para tratamento do intestino preso, porém somente o médico gastroenterologista poderá dizer qual a melhor opção para o seu caso. O uso de laxantes, a longo prazo, sem acompanhamento médico, pode ser danoso ao seu intestino! Nem os laxantes ditos “naturais”, como chás e ervas devem ser usados sem acompanhamento.

foto de mulher grávida com mão na barriga

Como aliviar o intestino preso durante a gravidez?

Durante a gestação, é muito comum que o intestino fique mais preguiçoso devido às alterações hormonais que ocorrem nesse período. O aumento da progesterona durante a gravidez age inibindo os movimentos intestinais.

Na gestação, as modificações comportamentais têm uma importância ainda maior. Devemos evitar ao máximo o uso de medicamentos para proteger o desenvolvimento do bebê. A gestante deve ser orientada a realizar uma dieta rica em fibras, aumentar o consumo de líquidos e realizar atividade física.

Nos casos refratários à essas medidas, pode ser realizada a suplementação de fibras artificiais. Laxativos à base de óleo mineral e supositório de glicerina também podem ser utilizados.

Referências:

Bharuch AE, et al. American Gastroenterological Association medical position statement on constipation. Gastroenterology. 2013; 144(1):211-7

Bharucha AE, Lacy BE. Mechanisms, evaluation, and management of chronic constipation. Gastroenterology. 2020; 158(5):1232-49

Aziz I, et al. An approach to the diagnosis and management of Rome IV functional disorders of chronic constipation. Expert Rev Gastroenterol Hepatol. 2020; 14(1):39-46

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