Dra Thaís Figueiredo

GORDURA NO FÍGADO (ESTEATOSE HEPÁTICA):

A esteatose hepática, popularmente conhecida como gordura no fígado, é uma condição cada dia mais prevalente em virtude do crescimento da síndrome metabólica (obesidade, diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia) na população. Dados da Sociedade Brasileira de Hepatologia estimam que 30% da população mundial possui gordura no fígado. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, não é uma doença banal e merece acompanhamento com o gastroenterologista.

O que é a gordura no fígado?

”Gordura no fígado” é o termo popular utilizado para denominar a esteatose hepática, que consiste no acúmulo de quantidades excessivas de gordura no fígado.

Qual quantidade de gordura é considerada excessiva? O depósito de gordura em mais de 5% das células no fígado (hepatócitos).

O fígado é o segundo maior órgão o corpo e desempenha funções importantíssimas:

  • Metabolização de alguns medicamentos, lipídeos e glicose;
  • Secreção da bile, auxiliando o processo de digestão;
  • Neutralização de substâncias tóxicas (“detox” natural).
ilustração de um corpo masculino com foco na gordura do fígado

O que causa a gordura no fígado?

A principal causa de acúmulo de gordura no fígado é a Doença Hepática Gordurosa associada ao Metabolismo. Como o nome já diz, está associada à Síndrome Metabólica, que inclui:

  • Diabetes tipo 2 (2 ou mais dos seguintes: Glicemia jejum ≥ 126 mg/dL, glicemia 2 horas pós-Dextrosol ≥ 200 mg/dL, HbA1c ≥ 6,5%)
  • Pré-diabetes (Glicemia jejum: 100-125 mg/dL, ou glicemia 2 horas pós-Dextrosol: 140-199 mg/dL ou HbA1c 5,7-6,4%);
  • Sobrepeso (IMC: 25-29,9 kg/m²) ou obesidade (IMC ≥ 30 kg/m²);
  • Circunferência abdominal aumentada (Homens: ≥ 102 cm; Mulheres: ≥ 88 cm);
  • Hipertensão arterial (Pressão arterial ≥ 130×85 mmHg);
  • Hipertrigliceridemia (elevação dos triglicérides ≥ 150 mg/dL);
  • HDL (colesterol bom) baixo (Homens: < 40 mg/dL; Mulheres: < 50 mg/dL).

Todos esses fatores estão associados ao sedentarismo e ao consumo excessivo de alimentos ricos em açúcares e gorduras.

Algumas outras condições também podem levar ao acúmulo de gordura no fígado e devem ser investigadas na avaliação inicial:

  • Consumo elevado de bebida alcoólica;
  • Hepatites virais (A, B e C);
  • Hepatites autoimunes;
  • Hemocromatose (sobrecarga de ferro no fígado);
  • Uso de alguns medicamentos (Exemplos: Aspirina, Metotrexato, Ácido Valpróico, Esteroides, Tamoxifeno, Tetraciclina).

Quais os sintomas que a gordura no fígado causa?

Muitas vezes é uma doença silenciosa, mas não é inocente! Grande parte dos pacientes não apresentará sintomas e o diagnóstico será feito de forma incidental ao realizar um exame de imagem abdominal (por exemplo, o ultrassom) devido a outros motivos.
Quando ocorre inflamação no fígado (esteato-hepatite), os pacientes podem queixar dor no lado direito do abdome, enjoo (náuseas) e indisposição. Além disso, o fígado pode aumentar e tamanho e ser palpado pelo médico durante o exame físico.
Nos casos mais avançados, geralmente quando já houve evolução para cirrose, pode surgir pele e olhos amarelados (icterícia), acúmulo de líquido na barriga (ascite), inchaço nas pernas e coceira no corpo.

uma ilustração de um adolescente com a mão na lateral da barriga e um balão de um fígado com gordura na frente de uma mesa com fastfood

Quais são os fatores de risco para o acúmulo de gordura do fígado?

  • Obesidade e sobrepeso: principalmente acúmulo de gordura na região abdominal;
  • Sedentarismo;
  • Diabetes: quando descompensado, aumenta ainda mais o risco do acúmulo de gordura no fígado;
  • Dislipidemia: altas concentrações de triglicérides e LDL (colesterol ruim) e baixas de HDL (colesterol bom);
  • Hipertensão arterial;
  • Predisposição genética.

VOCÊ POSSUI ALGUM DESSES FATORES DE RISCO? MARQUE A SUA CONSULTA PARA AVALIARMOS SE VOCÊ TEM GORDURA NO FÍGADO.

Qual exame é utilizado para diagnóstico da esteatose hepática?

O ultrassom de abdome é o método de imagem inicial mais utilizado para o diagnóstico. Porém, esse exame só consegue detectar gordura no fígado quando mais de 30% do órgão está comprometido, ou seja, estágios iniciais de esteatose podem não ser diagnosticados. A sua avaliação também é prejudicada em pacientes obesos.
Na presença de dúvida diagnóstica, pode ser realizado a tomografia computadorizada do abdome ou a ressonância magnética de abdome, que é o exame de imagem padrão-ouro.
É importante também avaliarmos o grau de fibrose do fígado, que são as “cicatrizes” que se formam no órgão no decorrer do tempo, causadas pelo processo inflamatório crônico. Quanto maior o grau de fibrose, maior a chance de evolução para cirrose.
A biópsia hepática é o método mais preciso para avaliação dessa fibrose, mas é um procedimento invasivo, que será indicado em casos específicos. É introduzida uma agulha no abdome para retirar um fragmento do órgão e ele será encaminhado para análise em laboratório de patologia.
Temos disponível a Elastografia Hepática, que é um método não invasivo (é um aparelho semelhante a um ultrassom), que mede o grau de rigidez do fígado, avaliando de forma indireta a fibrose.
Os exames de sangue utilizados para avaliação da função hepática e das enzimas do fígado também precisam ser acompanhados.

VOCÊ REALIZOU ALGUM EXAME QUE DETECTOU GORDURA NO FÍGADO?

uma mão com uma maça verde e outra mão com um donut

Quais alimentos são prejudiciais ao acúmulo de gordura no fígado?

Não é só o consumo de alimentos gordurosos que leva à esteatose hepática. Outros tipos de alimentos que estão na lista como “vilões” e devem ser evitados são: bebidas artificiais (refrigerante, suco em pó e de caixinha, achocolatados) e carboidratos refinados (biscoitos, pães, massas).

Como é feito o tratamento para a esteatose hepática?

A base do tratamento é a perda de peso, mudança do estilo de vida, realização de atividade física e o controle rigoroso dos distúrbios metabólicos (obesidade, hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia).
Em pessoas com esteatose que estão acima do peso, uma perda de 3-5% do peso corporal já é benéfica. Uma perda um pouco maior, de 10% do peso, melhora a inflamação e as cicatrizes no fígado.
Algumas modificações comportamentais no dia a dia são essenciais:
1- Priorize uma dieta diversificada, com ingredientes naturais;
2- Aumente o consumo de frutas, verduras e hortaliças;
3- Inclua alimentos ricos em fibras na sua dieta, dando preferência aos grãos integrais;
4- Evite alimentos industrializados, frituras, açúcares e “fast-foods”;
5- Troque o óleo de cozinha pelo azeite extra virgem para o preparo dos alimentos;
6- Realize atividade física regularmente (no mínimo 150 minutos por semana).

Atualmente, existem poucas opções medicamentosas para o tratamento, mas vários fármacos estão em estudo.

A Vitamina E possui ação antioxidante e pode reduzir os danos causados pela inflamação. Porém possui efeitos adversos e suas indicações são bem específicas, devendo ser utilizada somente sob acompanhamento médico.

É importante ressaltar que a Silimarina, muito difundida como tratamento para esses casos, não está indicada e não possui nenhuma comprovação de benefícios no tratamento da esteatose hepática.

AGENDE SUA CONSULTA COM A DRA. THAÍS, ELA VAI ORIENTAR O MELHOR TRATAMENTO PARA O SEU CASO.

Qual médico o paciente que tem gordura no fígado deve procurar?

A área que estuda e trata as doenças relacionadas ao fígado é a hepatologia. A hepatologia é um subespecialidade dentro da gastroenterologia.
A Dra. Thaís Figueiredo Araújo é gastroenterologista, formada pela residência médica na Santa Casa de Belo Horizonte. Esse é um hospital referência no tratamento das doenças do fígado, contando, inclusive, com serviço de transplante hepático. Durante a sua residência, a Dra. Thaís teve contato com diversos pacientes com doenças hepáticas, dentre elas, a esteatose hepática.
O acompanhamento com um profissional especializado experiente em doenças do fígado é essencial para pacientes com esteatose hepática.

REALIZE O SEU ACOMPANHAMENTO COM QUEM É ESPECIALISTA NO ASSUNTO.

ilustração de um médico demonstrando os riscos para o fígado

Quais são os riscos a longo prazo da esteatose hepática?

A esteatose hepática, infelizmente, ainda é muito negligenciada tanto pela população quanto por muitos profissionais de saúde. Aquela velha história de que é só uma “gordurinha no fígado” precisa acabar de uma vez por todas!

A longo prazo, se não tratada, a doença pode evoluir para cirrose hepática e câncer do fígado. Além disso, quem tem gordura no fígado, possui um risco cardiovascular mais elevado, com o aumento da chance de desenvolver infarto e AVC (Acidente Vascular Cerebral).

A esteatose hepática tem cura?

Nos estágios inicias é possível reverter a agressão gerada ao fígado. Por isso a importância do acompanhamento regular com o gastroenterologista e o tratamento adequado.
Quando ocorre a evolução do quadro para a cirrose, o funcionamento do órgão já está bastante comprometido e a cura só é possível com o transplante hepático.

Referências:

EASL, EASD, EASO. EASL–EASD–EASO Clinical Practice Guidelines for the management of non-alcoholic fatty liver disease. J Hepatol. 2016; 64(6):1388-402
Falck-Ytter Y, Younossi ZM, Marchesini G, McCullough AJ. Clinical features and natural history of nonalcoholic steatosis syndromes. Semin Liver Dis 2001; 21:17
Angulo P, Keach JC, Batts KP, Lindor KD. Independent predictors of liver fibrosis in patients with nonalcoholic steatohepatitis. Hepatology 1999; 30:1356
Sanyal AJ, Van Natta ML, Clark J, et al. Prospective study of outcomes in adults with nonalcoholic fatty liver disease. N Engl J Med. 2021; 385(17):1559-1569

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *