Dra Thaís Figueiredo

DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO (DRGE):
TUDO QUE VOCÊ PRECISA SABER

O refluxo é uma das principais queixas dos pacientes no consultório do gastroenterologista. O que a maioria das pessoas não sabem é que existe o refluxo fisiológico (normal que aconteça) e o patológico (representa a Doença do Refluxo Gastroesofágico – DRGE).

ilustração demonstrando como o refluxo age no nosso corpo

O que é o Refluxo Gastroesofágico?

O refluxo consiste no retorno do conteúdo ácido do estômago para o esôfago, podendo chegar até a cavidade oral. O estômago e o esôfago estão localizados bem próximos e são conectados por uma espécie de “válvula”, chamada de esfíncter esofagiano inferior, que ao se abrir, permite que o refluxo naturalmente ocorra. Esse refluxo pode ser normal ou patológico.

Qual a diferença entre o refluxo fisiológico e o patológico?

Apesar de muitas vezes serem encaradas como sinônimos, “refluxo” e “DRGE” são coisas diferentes. O refluxo, ao contrário do que muitos imaginam, pode ser fisiológico, algo normal que acontece em todas as pessoas em algumas situações, como após as refeições, quando o esfíncter esofagiano inferior (“válvula” que existe entre o estômago e o esôfago) se abre para permitir a passagem do alimento.

Quando há o comprometimento dos mecanismos antirrefluxo do nosso organismo, essa válvula ficará aberta por um período mais prolongado, causando sintomas.  Esses sintomas são devido a uma irritação no esôfago provocada pelo conteúdo ácido do estômago refluído, pois a mucosa que reveste o esôfago não possui a mesma proteção que o estômago tem contra o ácido.

O refluxo será considerado patológico quando os sintomas ocorrem pelo ao menos duas vezes por semana.

foto de mulher em preto e branco com foco vermelho na área do esôfago e estômago

Quais são os sintomas típicos da Doença do Refluxo Gastroesofágico?

Os sintomas mais comuns da DRGE, também chamados de “sintomas típicos”, são:

– Regurgitação de alimentos ou líquido azedo;

– Azia ou sensação de queimação no estômago;

– Salivação excessiva.

VOCÊ TEM ALGUM DESSES SINTOMAS? A DRA. THAÍS PODE TE AJUDAR!

Quais são os sintomas atípicos da Doença do Refluxo Gastroesofágico?

Não é somente azia, queimação e regurgitação que são sintomas de refluxo. Sim, eles fazem parte do quadro clínico mais frequente da doença, mas muitos pacientes sofrem anos com a DRGE sem um diagnóstico e tratamento adequado por apresentarem apenas os sintomas atípicos. Quais são eles?

– Sensação de bolo na garganta (globus);

– Desconforto ao engolir;

– Dor de garganta;

– Rouquidão;

– Pigarro;

– Tosse crônica;

– Desgaste do esmalte dentário;

– Aftas orais;

– Dor torácica;

– Mau hálito;

– Chieira;

– Apneia do sono.

Esses sintomas são consequentes ao acometimento da faringe e laringe pelo ácido gástrico, causando uma laringite e desencadeando o refluxo laringofaríngeo.

foto de mulher com uma mão na frente da boca e outra na área do esofago

Qual médico procurar se tiver sintomas sugestivos da Doença do Refluxo Gastroesofágico?

O médico especialista no tratamento da DRGE é o gastroenterologista.

A Dra. Thaís Figueiredo Araújo é gastroenterologista, formada pela residência médica na Santa Casa de Belo Horizonte.


Ela poderá avaliar se os seus sintomas realmente são devido à DRGE e indicar o melhor tratamento, de forma individualizada, para o seu caso.

Como é feito o diagnóstico da Doença do Refluxo Gastroesofágico?

Para fazer o diagnóstico da DRGE, inicialmente é importante coletar uma história detalhada do paciente e definir se ele possui os sintomas típicos (azia e/ou queimação) pelo ao menos duas vezes na semana.
Os exames complementares estão indicados nas situações abaixo:

  • Pacientes que não apresentam resposta ao tratamento empírico com os Inibidores de Bombas de Prótons (IBP);
  • Recorrência dos sintomas após oito semanas de tratamento com IBP;
  • Investigação de dor torácica para a qual já foram excluídas causas cardíacas;
  • Pacientes que apresentam somente sintomas atípicos;
  • Suspeita de complicações;
  • Sinais de alarme (sintomas típicos em pessoas a partir de 40 anos, sangramento gastrointestinal, anemia por deficiência de ferro, perda de peso não explicada, dificuldade para engolir, vômitos persistentes, familiares de 1º grau com histórico de câncer gástrico);
    -Suspeita de outros diagnósticos.

Nos casos acima, qual o melhor exame? A seguir serão descritos os principais exames utilizados para o diagnóstico da DRGE.

1- Endoscopia Digestiva Alta

É o exame mais solicitado na prática e deve ser o primeiro a ser realizado. Durante o exame, é introduzido um tubo fino e flexível com uma câmera na garganta, permitindo visualizar o interior do esôfago e do estômago.

Ele avaliará as consequências causadas pelo ácido refluído no esôfago: esofagite e suas complicações (erosões, úlceras, estenoses, Esôfago de Barrett). É um excelente exame, porém, a ausência das alterações descritas acima não descarta o diagnóstico de DRGE. Nesses casos, pode ser necessária a realização da pHmetria esofágica de 24 horas.

2- pHmetria Esofágica de 24 horas
É o exame considerado “padrão-ouro” para o diagnóstico da DRGE. Uma sonda é inserida através do nariz até o estômago para medir a acidez no estômago e em todo o esôfago durante 24 horas. Possibilita correlacionar os sintomas do paciente com os momentos de refluxo.
É indicado para:

  • Confirmar o diagnóstico de DRGE em pacientes com endoscopia normal;
  • Avaliar sintomas atípicos;
  • Avaliar ajustes no tratamento em pacientes que já tem o diagnóstico de DRGE e estão realizando tratamento, mas persistem sintomáticos;
  • Paciente em pré-operatório de fundoplicatura (cirurgia antirrefluxo).

3- Manometria Esofágica
A manometria avalia a movimentação e as pressões dentro do esôfago. É posicionado uma sonda no esôfago, inserida pelo nariz. Indicado para pacientes com dor torácica e/ou dificuldade para engolir com endoscopia normal e naqueles com DRGE refratários ao tratamento. Também deve ser realizado no pré-operatório de fundoplicatura.

Quais são os fatores de risco para a Doença do Refluxo Gastroesofágico?

  • Condições que aumentam a pressão intra-abdominal: obesidade, gravidez;
  • Tabagismo e etilismo;
  • Retardo do esvaziamento do estômago (pode ser causado por exemplo pela gastroparesia diabética, uma complicação do diabetes de longa data);
  • Doenças dos tecidos conjuntivos, como a esclerodermia.

Qual o tratamento medicamentoso para a Doença do Refluxo Gastroesofágico?

1- Inibidores de Bomba de Prótons (IBP)
Os Inibidores de Bomba de Prótons (IBP), mais conhecidos como “prazois”, constituem a classe de medicamentos de primeira escolha para o tratamento da DRGE. Agem inibindo a secreção de ácido pelo estômago através do bloqueio das bombas de prótons. São medicamentos inclusos nessa classe: Omeprazol, Pantoprazol, Esomeprazol, Lansoprazol, Rabeprazol, Dexlansoprazol.
Para garantir a eficácia da medicação, é necessário seguir a recomendação de tomá-la 30 minutos antes da refeição (normalmente, prescritos pela manhã, em jejum).
São considerados seguros, mas como qualquer outro medicamento, não são isentos de efeitos adversos, dentre eles: deficiências nutricionais (magnésio, ferro, zinco, cálcio, vitamina D e vitamina B12), nefrite intersticial, diarreia, osteoporose, dentre outros. Portanto, não devem ser utilizados sem acompanhamento médico.
Os pacientes com diagnóstico clínico de DRGE (presença de sintomas típicos), devem realizar teste terapêutico com IBP por oito semanas, seguido de tentativa de suspensão (se ausência de Esôfago de Barrett ou esofagite grau C ou D de Los Angeles).
Já os pacientes apenas com sintomas atípicos sem devem realizar pHmetria para confirmar o diagnóstico de DRGE antes de iniciar o tratamento com IBP.

2- Bloqueadores do Receptor H2
Podem ser utilizados para alívio sintomático, mas são inferiores sem relação aos IBP. A Famotidina e a Cimetidina compõem essa classe de medicamentos.

3- Antiácidos
São medicações utilizadas apenas para alívio dos sintomas, mas não tratam a inflamação esofágica que acontece na DRGE. Dentre eles, podemos citar: Hidróxido de Alumínio e Hidróxido de Magnésio.
Cuidado: o uso excessivo de alguns antiácidos pode causar efeitos colaterais como diarreia e, menos frequentemente, danos renais.

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foto de mulher sentada na cama de olhos fechados com mão na garganta e outra no esôfago

Quais medidas comportamentais devem ser realizadas para melhorar o Doença do Refluxo Gastroesofágico?

Aliadas ao tratamento farmacológico, modificações comportamentais são essenciais para o bom controle dos sintomas de refluxo. São medidas simples, fáceis de realizar no dia a dia, mas que são de grande auxílio no alívio dos sintomas:
1- Elevar a cabeceira da cama em 15 cm;
2- Mastigar bem os alimentos;
3- Evitar conversar enquanto se alimenta;
4- Fracionar as refeições (ingerir porções menores de alimentos em intervalos de tempo mais curtos);
5- Emagrecer (caso esteja acima do peso);
6- Praticar atividade física;
7- Cessar o tabagismo;
8- Não deitar logo após se alimentar (aguardar no mínimo duas horas);
9- Evitar os alimentos que pioram os seus sintomas (alguns alimentos são mais propensos a causar refluxo, dentre eles: cafeína, chocolate, bebidas gaseificadas, gordura, bebidas alcoólicas, alimentos ácidos e condimentados);
10- Evitar roupas apertadas na região abdominal.

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Quais medicamentos podem ser usados para o tratamento da Doença do Refluxo Gastroesofágico durante a gestação?

Durante a gestação, devemos evitar ao máximo o uso de medicações para proteger o bebê dos possíveis efeitos adversos. Sempre que possível, deve-se tentar o alívio sintomático apenas com medidas comportamentais.
Quando os sintomas forem refratários e houver a necessidade de prescrever fármacos, os antiácidos devem ser a primeira escolha. O Sucralfato é outra opção de medicamento liberado na gravidez.

ilustração de como o refluxo age no nosso corpo

Quando está indicada a cirurgia antirrefluxo?

A cirurgia geralmente é indicada em pacientes nos quais o tratamento medicamentoso já foi tentado, porém sem sucesso e nas formas complicadas da DRGE.
Seguem abaixo as indicações possíveis:
1- Falha do tratamento medicamentoso (já com doses otimizadas);
2-Pacientes que não aderem bem às medicações (efeitos colaterais, não desejam usar os medicamentos);
3- pHmetria que persiste alterada mesmo após uso da dose máxima de IBP;
4- Esofagite grave na endoscopia (Graus C e D de Los Angeles);
5- Refluxos com alto volume de regurgitação;
6- Estreitamento do esôfago (estenose) sem sinais de malignidade;
7- Esôfago de Barrett sem sinais de malignidade;
8- Hérnia de hiato volumosa (maior ou igual a 5 cm), com sintomas.

Quais são as complicações da Doença do Refluxo Gastroesofágico?

A inflamação esofágica causada pelo refluxo, a longo prazo, pode causar complicações como sangramento, ulcerações, estreitamento da luz do esôfago (estenose) e Esôfago de Barrett (uma condição pré-cancerosa).

Referências:

Katz FO, et al. Guidelines for the diagnosis and management of gastroesophageal reflux disease. Am J Gastroenterol. 2013; 108:308-328
Katz PO, et al. ACG clinical guideline for the diagnosis and management of gastroesophageal reflux disease. Am J Gastroenterol. 2022; 117(1):27-56

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