GASTRITE NERVOSA: VOCÊ JÁ OUVIU FALAR?
A gastrite nervosa, tecnicamente nomeada como dispepsia funcional, é muito mais comum do que você imagina e pode acarretar sérias consequências à qualidade de vida dos pacientes. No artigo a seguir será explicado melhor sobre a definição, diagnóstico, causas e tratamento dessa doença.
O que é a gastrite nervosa (dispepsia funcional)?
A gastrite nervosa é o termo popular utilizado para a condição que tecnicamente é chamada de dispepsia funcional.
O termo “dispepsia” se refere a sintomas digestivos:
– Dor ou queimação no estômago;
– Plenitude pós-prandial (sensação de empachamento / empanzinamento);
– Saciedade precoce (pessoa se sente satisfeita com pequena quantidade de alimento).
Os sintomas podem ser graves o suficiente para limitar as atividades habituais. Alguns pacientes também podem ter náuseas, vômitos ou azia, porém, esses sintomas são menos comuns.
Já o termo “funcional” indica que não existem causas orgânicas para justificar os sintomas acima. Ou seja, os exames, como a endoscopia, não identificam nenhuma alteração no trato digestivo.
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Quais são as causas da gastrite nervosa?
A dispepsia funcional é uma doença multifatorial, ou seja, existem vários fatores envolvidos na sua origem. E até hoje, essas causas não foram completamente esclarecidas. As teorias existentes acreditam que haja uma interação dos seguintes fatores:
1- Fatores psicológicos: existe uma forte conexão entre o trato digestivo e o sistema nervoso. Muitos estudos consideram que a dispepsia funcional seja parte dos distúrbios do “eixo cérebro-intestino”, juntamente com a síndrome do intestino irritável (é muito comum associação dessas duas doenças nos pacientes). Assim, a gastrite nervosa tem sido associada à ansiedade, depressão e a outros transtornos do humor.
2- Retardo no esvaziamento gástrico: o estômago teria uma dificuldade maior no processo de esvaziamento do seu conteúdo, prejudicando a digestão.
3- Alterações na microbiota intestinal: esta hipótese é baseada na ocorrência frequente de dispepsia após um episódio de gastroenterite (infecção intestinal que causa alterações na microbiota).
4- Hipersensibilidade visceral: acredita-se que os pacientes com gastrite nervosa tenham um limiar reduzido para dor quando ocorre a distensão gástrica, ou seja, há uma sensibilidade aumentada ao aumento do volume do estômago.
Como é feito o diagnóstico da dispepsia funcional?
O diagnóstico é clínico, na maioria das vezes sem necessidade de exames complementares. Porém eles podem ser necessários em alguns casos para excluir a presença de alguma doença estrutural do trato digestivo.
Devemos sempre excluir a presença de sinais de alarme, que podem ser indicativos de uma doença mais grave:
– Perda de peso inexplicada;
– Vômitos persistentes;
– Dificuldade para engolir;
– Presença de massa na região abdominal;
– Histórico de câncer gástrico em familiar de 1° grau;
– Anemia por deficiência de ferro;
– Sangramento gastrointestinal.
Os exames geralmente realizados para a exclusão de doenças gastrointestinais são:
1- Endoscopia Digestiva Alta: deve ser realizada na presença de qualquer um dos sinais de alarme acima, se suspeita de diagnósticos alternativos ou se início dos sintomas dispépticos após os 40 anos de idade.
2- Exame parasitológico de fezes: indicado nas regiões endêmicas para parasitoses (No Brasil, realizamos).
3- Pesquisa de Helicobacter pylori: devido à alta prevalência da bactéria no Brasil, deve ser realizada em todos os pacientes com sintomas dispépticos. Existem alguns métodos disponíveis para essa investigação:
– Teste respiratório com ureia marcada C13 ou C14 (padrão ouro);
– Endoscopia digestiva alta com biópsia e / ou teste da urease (método mais disponível e geralmente o realizado na prática);
– Teste do antígeno fecal.
Se os exames não identificarem nenhuma causa orgânica para os sintomas, fazemos o diagnóstico da gastrite nervosa.
Qual o tratamento da gastrite nervosa?
Feito o diagnóstico de gastrite nervosa, o primeiro passo é explicar ao paciente que se trata de uma doença benigna, que não aumenta o risco de câncer. Essa é uma etapa essencial para tranquilizar o paciente, com eficácia na melhora do quadro clínico, pois muitas vezes os sintomas são desencadeados e/ou intensificados pelo estresse e medo de estar com alguma doença grave. É importante também orientar que os sintomas dispépticos são de caráter recorrente e podem persistir por longos períodos.
Caso os exames identifiquem a bactéria H. pylori, o tratamento deve ser realizado.
As parasitoses, quando detectadas, também devem ser tratadas.
Os Inibidores de Bomba de Prótons – IBPs (Omeprazol, Pantoprazol, Esomeprazol, Lansoprazol, Rabeprazol, Dexlansoprazol) são indicados para alívio sintomático da dispepsia. Eles agem inibindo a secreção de ácido pelo estômago através do bloqueio das bombas de prótons.
Caso não haja melhora após o uso de IBP por oito semanas, está indicado o início de antidepressivo. Os antidepressivos tricíclicos são a primeira opção, eles alteram a sensibilidade no trato gastrointestinal superior.
Também é muito importante um acompanhamento multidisciplinar com profissionais da área da psicologia e / ou psiquiatria se houver sinais de ansiedade, depressão ou outro transtorno de humor.
Modificações comportamentais são essenciais para bom controle dos sintomas e devem ser orientadas ao paciente:
– Praticar atividade física;
– Evitar o uso de medicamentos anti-inflamatórios (AINEs);
– Suspender o tabagismo e o etilismo;
– Perder peso em caso de sobrepeso;
– Manter uma alimentação saudável e equilibrada;
– Evitar períodos prolongados de jejum;
– Conciliar uma rotina de sono saudável.
Qual é o médico que acompanha os pacientes com dispepsia funcional?
O médico especialista no tratamento da gastrite nervosa é o gastroenterologista.
A Dra. Thaís Figueiredo Araújo é gastroenterologista, formada pela residência médica na Santa Casa de Belo Horizonte.
Ela poderá avaliar os seus sintomas e o melhor tratamento para o seu caso.
Quais são as consequências a longo prazo da doença?
A gastrite nervosa é uma doença crônica, com sintomas que variam em gravidade ao longo do tempo. Os pacientes podem flutuar entre períodos sem sintomas e períodos de recaídas. Pode causar impactos importantes na qualidade de vida dos pacientes devido aos sintomas incômodos. Porém, não aumenta o risco de câncer gástrico e nem de mortalidade.
Referências:
Ford AC, Mahadeva S, Carbone MF, et al. Functional dyspepsia. Lancet. 2020; 396(10263):1689-1702
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