Dra Thaís Figueiredo

DOENÇA CELÍACA: ENTENDA A DOENÇA DO GLÚTEN

Dietas com restrição do glúten estão em alta, mas a maioria das pessoas não sabe as reais indicações da suspensão. A Doença Celíaca é a doença mais grave associada ao glúten e o diagnóstico e tratamento precoces são essenciais para a boa evolução a longo prazo.

O que é a Doença Celíaca?

A Doença Celíaca é uma doença crônica do intestino delgado caracterizada pela intolerância permanente ao glúten, substância encontrada no trigo e seus derivados. Ela é desencadeada por mecanismos autoimunes em indivíduos que são geneticamente predispostos e suscetíveis à doença.

O resultado dessa reação é a inflamação da mucosa intestinal, com atrofia das vilosidades do intestino, comprometendo a absorção dos nutrientes.

É uma doença que possui componente genético, sendo mais frequente em pessoas que tem familiares acometidos. Nos consultórios, tem se mostrado mais prevalente do que se imaginava. No Brasil, estima-se que cerca de um a cada 474 adultos e uma a cada 184 crianças tenha a doença não diagnosticada. É mais prevalente em mulheres (2 mulheres para cada homem).

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O que é o glúten?

O glúten é uma proteína presente nos cereais, como: trigo, centeio, cevada e triticale (cruzamento entre trigo e centeio). A função do glúten é manter o formato dos alimentos (juntamente com a água, forma um tipo de “gel”, que garante elasticidade aos alimentos).

foto de três pães australianos com um trigo no meio

Quais são as outras doenças associadas ao glúten?

Existem 3 doenças associadas ao glúten:

1- Sensibilidade ao glúten não celíaca: sintomas digestivos ao ingerir glúten, mas exames negativos para Doença Celíaca. Nesse caso, a suspensão do glúten da dieta é uma opção para melhora dos sintomas, mas não é obrigatório, pois não causa inflamação intestinal.

2- Alergia ao trigo: sintomas alérgicos (lesões de pele, coceira…) ao ingerir glúten. Devido à possibilidade de reações mais graves, o glúten não deve ser ingerido.

3- Doença Celíaca: falaremos mais detalhadamente sobre ela a seguir.

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Como é feito o diagnóstico da Doença Celíaca?

Seu diagnóstico é baseado em suspeita clínica, exames sorológicos e, após a sorologia positiva, é necessária a realização de endoscopia digestiva alta com biópsia intestinal.

Os sinais iniciais de disfunção geralmente se iniciam na infância. Entretanto, muitos casos são diagnosticados somente na vida adulta, quando há uma deficiência nutricional mais severa. Estima-se que mais de 70% dos pacientes sejam diagnosticados após os 20 anos de idade.

1- Anticorpos: Anti-endomísio, Anti-transglutaminase tecidual e Anti-gliadina). São produzidos a partir da inflamação intestinal (duodeno) que o glúten causa aos portadores da doença.

2- Biópsia duodenal: realizada através da endoscopia. É preciso documentar a atrofia das vilosidades intestinais. O intestino normal é revestido por estruturas semelhantes a dedos ou uma borda em “escova”, chamadas vilosidades, onde são absorvidos os nutrientes. Na Doença Celíaca, essas vilosidades ficam achatadas.

3- Teste genético: dosagem de HLA DQ2 / DQ8. Geralmente é realizado quando existe dúvida diagnóstica, por exemplo, se houver biópsia sugestiva, mas os anticorpos forem negativos.

Ao interromper a ingestão do glúten, a tendência é que os anticorpos se negativem e as velocidades intestinais voltem ao normal. Assim, esses exames devem ser realizados com o paciente em consumo do glúten.

Por isso, não suspenda um glúten antes de consultar com um gastroenterologista: essa atitude atrasa o diagnóstico de Doença Celíaca, que é uma doença que pode trazer complicações como desnutrição e até linfoma do intestino delgado.

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Os familiares de quem tem Doença Celíaca devem se preocupar?

Por se tratar de uma doença genética, os familiares de pacientes com Doença Celíaca possuem um risco maior de desenvolver a doença. Sendo assim, também precisam procurar o médico para ser realizado exames de rastreio.

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Quais são os sintomas da Doença Celíaca?

As formas clássicas da doença geralmente se apresentam com diarreia, dor e/ou desconforto abdominal, excesso de gases, náuseas e vômitos, principalmente após a ingesta de alimentos que contêm glúten. Porém, a maioria dos pacientes não apresentam sintomas exuberantes, muitos inclusive são assintomáticos (sem nenhum sintoma).

Por isso, utilizamos o iceberg para explicar a doença: no topo estão os pacientes clássicos, que tem o diagnóstico de forma mais fácil. Já os submersos no mar, são aqueles com as manifestações menos conhecidas da doença: perda de peso, deficiências nutricionais, anemia, enxaqueca, infertilidade, aborto recorrente, constipação, osteoporose, doença renal, dermatite herpetiforme, fadiga, dentre outras. Cerca de metade dos casos se apresentam de forma atípica.

A Doença Celíaca não é uma doença rara: uma em cada 100 pessoas é celíaca! O desconhecimento sobre as várias formas de apresentação da doença é o que atrasa inúmeros diagnósticos e traz a falsa sensação de se tratar de uma patologia rara.

O diagnóstico pode ser muito desafiador! Por isso os profissionais de saúde precisamos estar atentos a todos os sinais. O diagnóstico precoce é fundamental para uma boa evolução da doença.

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Qual médico trata a Doença Celíaca?

O médico especialista no diagnóstico, tratamento e acompanhamento da Doença Celíaca é o gastroenterologista.

A Dra. Thaís Figueiredo Araújo é gastroenterologista, formada pela residência médica na Santa Casa de Belo Horizonte.

Ela poderá avaliar os seus sintomas, solicitar os exames para definir o diagnóstico correto e te orientar sobre o tratamento.

Qual é o tratamento da Doença Celíaca?

O único tratamento possível é uma dieta com exclusão total do glúten de forma definitiva (por toda a vida). Mesmo a ingestão de pequenas quantidades de glúten podem agravar a doença. O celíaco deve conhecer os ingredientes que compõem os alimentos e fazer leitura minuciosa dos rótulos dos industrializados.

É essencial a educação do paciente portador da doença, ele deve ser orientado sobre a importância da exclusão do glúten e sobre as consequências a longo prazo caso a dieta não seja seguida.

foto de uma lousa com "Gluten Free Diet" (dieta sem glúten) escrito em giz

O acompanhamento multidisciplinar com um nutricionista que tenha experiência no manejo desses pacientes também é fundamental para o sucesso do tratamento.

A redução das vilosidades intestinais prejudica a absorção de várias vitaminas. É preciso avaliar as deficiências nutricionais e repor os que estiverem em déficits. Os níveis de vitamina B12, ferro, ácido fólico e vitamina D devem ser monitorizados.

O tempo de resposta à dieta sem glúten varia de pessoa para pessoa. Os sintomas geralmente melhoram em duas semanas e essa melhora é mais rápida que a melhora histológica (biópsia). Deve-se realizar monitorização regular dos sintomas, dos anticorpos e da histologia para avaliar a adesão à dieta e a evolução da doença. Se não houver melhora clínica e/ou declínio da sorologia, verificar transgressão da dieta, doença celíaca refratária e diagnósticos diferenciais.

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Existe medicamento para a Doença Celíaca?

Infelizmente, ainda não existe nenhuma medicação disponível para o tratamento da Doença Celíaca. Porém, existem medicamentos promissores em fase de estudos.

mulher sentada em laboratório vendo resultado de exames em uma tela

Quais são os alimentos que contêm glúten?

Diversos alimentos consumidos no dia a dia contêm glúten. Além disso, tem aqueles que aparentemente não possuem, mas ao lermos o rótulo, verificamos que o glúten faz parte da sua composição.

Segue abaixo uma lista básica de alguns alimentos que contém glúten:

– Cereais;

– Pães;

– Biscoitos;

– Bolos;

– Pizza;

– Massas em geral;

– Cerveja;

– Corantes alimentares.

A Doença Celíaca tem cura?

A suspensão do glúten da dieta leva a uma normalização dos anticorpos e das vilosidades intestinais, conseguindo um controle da doença. Entretanto, não podemos falar em cura, se o paciente reintroduzir o consumo do glúten, as alterações retornarão.

foto com seis tubos de vidro de sangue

Quais as consequências da Doença Celíaca a longo prazo?

Se a dieta com restrição de glúten não for seguida, a longo prazo, as consequências podem ser bastante deletérias:

– Deficiências nutricionais;

– Osteoporose precoce, principalmente em mulheres, devido à má absorção de cálcio e vitamina D;

– Infertilidade;

– Linfoma intestinal;

– Adenocarcinoma intestinal (complicação mais rara).

SE VOCÊ POSSUI DOENÇA CECLÍACA, É MUITO IMPORTANTE MANTER O ACOMPANHAMENTO REGULAR COM UM GASTROENTEROLOGISTA PARA EVITAR AS COMPLICAÇÕES.

Referências:

Bai JC, et al. Doença celíaca. World Gastroenterology Organisation Global Guidelines; 2012

Rubio-Tapia A, et al. ACG Clinical Guidelines: diagnosis and management of celiac disease. Am J Gastroenterol. 2013; 108:656-676

Husby S, et al. AGA Clinical Practice Update on diagnosis and monitoring of Celiac disease — changing utility of serology and histologic measures: expert review. Gastroenterol. 2019; 156(4):885-889

Uma resposta

  1. Um diagnóstico precoce é sempre melhor para adaptação da alimentação com tantas restrições.

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